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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Felicidade, essa bandida


Poucas coisas podem ser tão perniciosas quanto a felicidade. Eu, que tenho vivido sempre a perseguir essa quimera, agora, às vésperas de fechar o balanço de mais um ano, constato aliviado que grande parte daqueles votos de felicidade proclamados com maior ou menor sinceridade falhou miseravelmente. Que alívio!

Imagine alguém que enriqueça, ou, já sendo rico, que alcance toda a riqueza que tenha sido capaz de imaginar. Que tenha o amor e o corpo da mulher mais maravilhosa que possa ter desejado. Que seu time tenha sido campeão estadual, nacional e continental. Que não tenha sofrido nenhuma decepção, nenhuma ofensa, nenhuma dor física ou moral. Que tenha concretizado todos os seus sonhos e fantasias. Fosse eu o infeliz objeto de tanta felicidade, por certo não veria o alvorecer de 2012, pois antes do foguetório e do champanhe meteria uma bala nos miolos.

Pois que felicidade demais amolece o corpo e o caráter, e a insatisfação é a mãe de todas as artes. Imagine amanhecer a cada dia completamente feliz, sem qualquer inquietação, nenhum incômodo no corpo ou na alma. Quem se disporia a sair da cama? Que louco iria pôr a vontade, o engenho e os músculos a funcionar para tentar melhorar o que já é ideal?

Graças ao bom Deus, a Felicidade não me atingiu. Pequenas felicidades sim, algumas se demorando um pouco, outras ariscas como passarinho da mata. Posso me aproximar do ano novo pleno de insatisfações comigo próprio e com o mundo. Então, vou pegar no armário aquelas esperanças amarrotadas, rotas e verdesbotadas, amarrá-las no pescoço e sair na primeira chuva do ano abraçando e beijando meus semelhantes insatisfeitos, desejando um feliz 2012. Mas, no fundo, torcendo que não sejam tão felizes assim, deixando espaço para um 2013 melhor.

E vamos que vamos!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Absolutamente

Concessão inédita, publico no blog texto alheio. Vão entender o porquê: Marly Riva, quase oitenta, é talento sensível e arisco, alma de passarinho. Diz que não acredita na beleza de seus cantos. É minha colega nas tardes-noites da Oficina de Textos. Cantou este conto que estava escondido, mas que dou a público neste blog.


Absolutamente

Quando saímos, mãozinha gorducha apertada à mãozona confiável de papai, soprei um fio de voz: “E se eu tiver que deixar o colégio?”

Papai passou pro outro canto do beiço o cigarro que enrolara havia pouco, lacônico: “Absolutamente!”

Perdi-me, em meus nove anos, acostumada a tudo esperar da magnitude paterna. Insisti: “Ela vai brigar, reclamar ou ser boazinha?”

O pai: “É comigo.”

Que caminho longo, doído. Minha cabeça mexia aflita. Desconhecidas ruas, nem era longe, os outros me pareciam estranhos, todos alegres, sem medo do futuro.

Lembro esparsamente do diálogo entre meu pai e a dona do colégio. Ele curto, seco, quase superior: “Vou ficar atrasado com o pagamento, é a primeira vez, saldo quando puder. Problema?”

E ela: “Absolutamente!”

Saí confusa, mas confortada. “Pai, não terei que sair do colégio? Ela disse sim ou não?”

E ele: “Absolutamente!” E enrolou outro cigarro.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Aquarela


No início de 2011 comecei a freqüentar aulas de aquarela por sugestão de minha filha mais velha e, depois, meus dois outros filhos juntaram-se a nós. O professor é Renato Alarcão, ilustrador muito conhecido e respeitado entre seus pares e que mora aqui pertinho, em Niterói. Depois de anos sem tocar nos pincéis, era a oportunidade de tomar contato com a aquarela, um meio bem mais complicado que a pintura a óleo. Uma definição me escapou outro dia: pintura a óleo é como operar uma máquina, enquanto a aquarela é como conduzir um rebanho: os pigmentos diluídos em água têm vida e decisões próprias. O melhor que você pode fazer é conduzir a tinta e antecipar, com alguma expectativa de acerto, o que ela vai decidir fazer sobre o papel. E cada  pigmento tem seu próprio temperamento: transparência, permanência, capacidade de aglutinar ou fundir com o vizinho de outra cor e outras idiossincrasias.

Essa tem sido uma grande oportunidade de conhecer gente bacana e interessante, com cabeças e esforços voltados para os mais diferentes objetivos, como padronagens para tecidos, ilustração de livros infantis, vinhetas para vídeo e TV, história em quadrinhos e graphic novels. Conversar e conviver com pessoas de áreas tão diferentes é tão bom e interessante quanto aprender aquarela.

Cheguei pensando em fazer paisagens, mas não fiquei imune à convivência com os ilustradores. A gente como que se contagia. Decidi que já dá para mostrar alguma coisa. Então, dêem uma olhada aí embaixo.

Segue também o link do mestre e amigo Alarcão:
Kurazo e seu mascote

Dancing Queen