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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Mulher com Borogodó




Em crônica recente, Joaquim Ferreira dos Santos sugeriu que Luana Piovani dedicasse um programa do “Super Bonita”, que ela apresenta no canal GNT, às mulheres normais, imperfeitas no que se refere à beleza. Sugestão esta que foi declinada com veemência: "Ninguém vai assistir um programa que incentive a inércia no duvidoso", ela protestou. "Incentivamos a sua melhor versão. Todos temos! Agora, você me diz onde estão esses homens que curtem bunda mole com furinhos, a testa giga, barriguinha e cabelos crespos polvorosos porque no planeta que moro, homem tá mais vaidoso que a gente".

Não vou ser hipócrita de fazer aqui apologia da feiura. Concordo com a Luana quando ela diz que todos temos que buscar nossa melhor versão. Mas a comparação com pessoas que nascem com genética privilegiada no que se refere à aparência física pode causar muita frustração aos demais viventes. Não há plástica ou academia que vá me deixar minha melhor versão minimamente comparável com o nível de beleza de um Brad Pitt. O que não faz sentido é imaginarmos que perfeição estética é pré-requisito para a felicidade no amor. Todos conhecemos aquela pessoa linda que não consegue segurar um relacionamento e aquela outra que, apesar de não constar no primeiro time da beleza, tem séquitos de admiradores(as) esperando a fila andar.

A beleza é um abre alas, não resta dúvida. Diante de uma pessoa bonita abrimos, vulneráveis, nossas defesas, às vezes de forma imprudente. A beleza desperta-nos sorrisos e boa vontade. É um bem que, além do óbvio apelo erótico, inconsciente e automaticamente associamos à virtude. Automatismo esse que, muitas vezes, não resiste a dois segundos de razão. Felizmente, amor e felicidade são mais democráticos que a beleza.

Então, o que é que têm algumas pessoas que não são do primeiro time dos belos que as torna capazes de cativar admiradores e apaixonados? Um outro fator, talvez mais intangível que a beleza: o borogodó.

Borogodó faz uma mulher se apaixonar por um homem mais baixo e abrir mão do salto alto pelo resto da vida, e a Carla Bruni está aí que não me deixa mentir. Borogodó nos faz amar a gordinha, a magrela e aquela de nariz cheio de personalidade. E o que, afinal, é esse tal de borogodó? As definições podem ser muito subjetivas e variar de pessoa para pessoa: para uns pode ser tornozelo grosso, para outros a voz meio rouquinha ou um sotaque gaúcho. Para algumas pode ser peito cabeludo ou covinha no queixo. Eu, por exemplo, no que se refere à aparência, curto cabelo comprido e umas outras coisinhas mais, que eu não vou abrir aqui por que não vem ao caso. Mas vamos fugir dos aspectos físicos e nos atermos à atitude e, longe de qualquer rigor cientifico, limitar-nos a dizer aqui o que é que tem a mulher com borogodó na nossa modesta e muito particular opinião. Apesar de que alguns requisitos, penso eu, são universais.

Mulher com borogodó (MCB) é bem humorada. Não tem nada mais anti-borogodó do que mau humor. Por ser bem humorada, o sorriso é estado natural da MCB. Não um sorriso estudado, de miss ou de dançarina de auditório, mas um sorriso que é o transbordamento natural do prazer que a MCB tem em viver.

MCB é feminina, mas não é infantil. É feliz em ser mulher e não inveja nem critica os homens apenas por serem eles homens. Ela agradece a Deus por Ele tê-los posto no mundo, da mesma forma que os homens com borogodó O louvam por ter Ele inventado a mulher.

MCB acredita que estaria melhor com um bom homem a seu lado, mas fica muito bem sozinha. MCB não troca sua solidão pela companhia de um qualquer. MCB não está ali pedindo para ser resgatada da solidão. Ela sabe bem que homem bem resolvido não gosta de bancar o caminhão guincho, daqueles com a frase “eu vou tirar você deste lugar” pintada no para-choque. Quem precisa de guincho é mulher enguiçada, e não MCB.

Na cama, a MCB não fica se comportando como um belo prato a ser desfrutado por um felizardo, nem entra na pista com freio de mão puxado. MCB entra em campo à vontade e se diverte tanto quanto seu parceiro.

MCB olha nos olhos com uma confiança relaxada. Não faz caras, bocas nem gestos estudados, pois confia nos atributos de seu borogodó e não finge ser o que não é. Não obstante, ela tem um jeitinho todo especial de ajeitar os cabelos e de andar com graça mesmo quando está com pressa, que ela exercita distraída e espontaneamente.

MCB sente-se bem vestida para festa, mas muito mais ainda quando está mais à vontade. MCB veste jeans e camisa, calça uma sandália com saltinho, põe um batonzinho e uma lavanda e esbanja borogodó por onde passa.

Mulher bonita a gente sonha ou planeja pegar, mas MCB desperta na gente vontade de namorar, de passear de mão dada, de ver um pôr do sol ou ouvir uma música juntinho. E depois amar.

Então, minhas amigas, permitam-me um humilde conselho. Frequentem a academia, malhem, endureçam o bumbum e a barriguinha para serem seguidas por olhos gulosos pela rua. Mas se quiserem encantar profundamente um homem, exercitem-se também no borogodó.


10 comentários:

  1. Excelenteeeeeeeeeeeeeeeeee texto!
    Viva o borogodó^^

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  2. ECB (Escritor com borogodó) é assim, pega um assunto corriqueiro e faz um texto excelente! Mandou muito, como sempre!

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  3. simplesmente sensacional. :)

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  4. E o escritor,como lida com o seu borogodó??
    A mulherada quer saber ... !!!

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  5. Ai, acho que perdi meu borogodó, se é que algum dia tive... :(

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  6. Qualquer adjetivo que eu use aqui não conseguirá traduzir o sentimento despertado em mim pelo seu texto, Ralph! E não estou jogando mero confete.

    Particularmente, um texto iniciado por mais uma controvérsia protagonizada pela Luana Piovani não me atrairia. Não pq me julgo melhor do que ela, mas porque não é novidade e eu ando muito sem tempo (e saco) para assuntos tão repetidos.

    Mas, você, com seu talento, conseguiu produzir um texto perfeito. Mais um? É isso mesmo! Mais um! Meus sinceros parabéns ao talentoso amigo Ralph!

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