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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Da série VIRTUDES: Lealdade.

O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. (Millor Fernandes)
Um desavisado pode até achar bonita e nobre a forma como o PT não desampara os seus membros que foram pegos no exercício do desvio do dinheiro público para o financiamento de campanhas presidenciais e regionais e a compra de votos no Congresso para a aprovação sem sustos das proposições do Partido dos Trabalhadores. Era de se imaginar que qualquer outro partido, na tentativa de autopreservar-se e separar a imagem partidária da de seus membros criminosos, expurgasse as maçãs podres para preservar o cesto.  Diriam, como já disseram outros partidos, mesmo que só para inglês ver: "Esclareça-se tudo e punam-se os eventuais culpados." Por que o PT não age assim? Porque a militância e os líderes remanescentes do Partido dos Trabalhadores se desdobram em tentar metamorfosear criminosos julgados e punidos em mártires alados abatidos em seu voo heroico na direção da redenção do povo brasileiro? Por que, porque?

Simples. O desvio de recursos públicos, a cobrança de pedágio das empresas prestadoras de serviços às prefeituras petistas, a compra de votos de deputados "menos nobres" de partidos idem não eram atos aloprados de filiados desonestos. Eram, isso sim, provas de lealdade, de cumprimento fiel às determinações da cúpula petista, o Sr José Dirceu como grande mentor. Os meios ilícitos seriam pequenas concessões necessárias para o Bem Maior: a hegemonia do Partido dos Trabalhadores, entidade ungida e sagrada pelo deus Socialismo, única capaz de levar o povo brasileiro à terra prometida da utopia. É assim que acredita a militância fanática. Isso explica muito, se não tudo. A cesta é que é podre. 

Todo fanatismo me dá medo. Contra fanático não há lógica nem argumento.



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Franciscano

Aquarela agora acabada. Cabeça feita.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

(Por) Una Cabeza

Uma cabeça.
Às vezes acontece de você terminar uma aquarela trabalhosa, que levou mais de uma sessão para fazer e então sobra um tempinho. Aí você resolve fazer uma coisa rápida com o tempinho que sobra e começa a gostar e a se divertir. No caso em questão, não tinha sobrado nem uma folha de papel próprio para aquarela, que é feito de algodão. Usei a capa de cartão do bloco mesmo, que chupava toda a água assim que se colocava a tinta sobre a superfície. Nada de barriga de tinta para ser dirigida pelo papel e dar uniformidade e continuidade aos diversos tons. Está nisso aí. Resolvi postar o "Making of". Quando terminar mostro o resultado final. Em tempo, é um frade franciscano que eu havia fotografado na Praça de Sâo Pedro, no Vaticano.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Falésias

(Ireland cliffs, falésias, aquarela, acquarella, watercolor)

domingo, 10 de novembro de 2013

Crônicas Californianas III: On the Road

Um dos grandes baratos de uma viagem é imaginá-la antes de embarcar. Uma viagem começa bem antes da viagem em si: podem ser semanas, meses, até anos, dependendo do tempo entre o início do projeto e sua realização. Depois, quando finalmente acontece, é interessante confrontarmos a realidade que encontramos com aquilo que imaginamos. Nem sempre é fácil manter viva a imagem idealizada depois de vivermos a experiência de fato. Às vezes coincide, às vezes pode ser bem diferente. Melhor ou pior, mas dificilmente igual ao imaginado.

Poucos lugares do mundo exibem uma variedade tão grande de paisagens e climas tão próximos uns dos outros. A maioria talvez imagine a Califórnia como um litoral ensolarado com praias de areia fina, gente sarada e bronzeada exibindo-se sobre patins, skates ou em barras de ginástica estufando seus músculos, o que é verdade se você for a Los Angeles. Outros imaginarão boulevards ladeados de palmeiras e mansões espetaculares, percorridos por carrões conversíveis dirigidos por gente famosa escondida atrás de bonés, lenços de cabeça e indefectíveis óculos escuros. Acredito que seja isso mesmo se você pensa em Hollywood. Mas não era essa a Califórnia que eu ansiava por conhecer.

Em direção á Sierra Nevada.
O estado mais próspero dos Estados Unidos tem muito mais. Entre o litoral ensolarado e as montanhas da Sierra Nevada existe um grande hiato semidesértico atravessado por estradas de retas longas e onduladas, uma paisagem árida e monótona, em boa parte irrigada para dar lugar a extensas plantações, na maioria vinhedos e pomares. As estradas em si foram uma atração à parte. Cresci e ainda vivo assistindo road movies como “Easy Rider”, “Thelma e Louise”, “Encurralado”, “Bonnie and Clyde”, “Little Miss Sunshine”, “Lolita”, “Deu a Louca no Mundo”, “Crossroads”, “Rain Man”, e, mais recentemente, a versão cinematográfica de Walter Salles Jr para “On The Road”, o icônico livro já cinquentenário de Jack Kerouak. Além, claro, dos nacionais “Bye-bye Brasil” e “Central do Brasil”. Adoro o gênero. Pegar a estrada tem o significado do inconformismo e da mudança, de deixar para trás o que não se quer mais e partir em busca de algo melhor, muito embora na maioria dos filmes do gênero não fique claro o que se busca e onde se quer chegar. Talvez o destino não tenha nenhuma importância, o próprio ato de estar na estrada significando liberdade, desapego, abertura para novas experiências, a possibilidade de assumir o controle da vida e escrever o próprio destino com novas tintas, a possibilidade de novas amizades, o estreitamento de afinidades recentes.


Califórnia 1, em Big Sur.
Seja margeando o litoral acidentado do Big Sur, seja atravessando desertos; cruzando com comboios de Harley Davidson montadas por tiozões de barba grisalha e jaquetas pretas, as franjas de couro na ponta dos guidons agitando ao vento; e com as magníficas carretas GMC com suas chaminés resfolegando óleo diesel, suas buzinas que parecem apitos de trem ou de navio e seus cromados lindamente exagerados; seja subindo a Sierra Nevada, onde em meia hora se passa do deserto escaldante, os roadrunners (o beep-beep que atazana o coiote no desenho animado) atravessado a pista em alta velocidade, para a úmida e temperada paisagem de pinheiros e sequoias, onde se pode ter que frear bruscamente para não atropelar uma ursa e seus filhotes; seja nos postos de gasolina, verdadeiros oásis de civilização no meio do deserto, ou nos hotéis de beira de estrada, era essa a Califórnia que queríamos ver e vimos. A sensação foi de estarmos em um filme, bem no meio de onde acontece a ação. Então, era sintonizar a rádio Lithium para ouvir Foo Fighters, Alice in Chains, Smashing Pumpkins, Green Day ou Nirvana. Ou então, se a nostalgia levasse mais longe no U Turn do tempo, ajustar o rádio para a Classic Rock e ter o som de dinossauros como Deep Purple, Def Leppard, Iron Maiden, Nazareth, White Snake e Tin Lizzard como trilha sonora para a paisagem que desfilava pela janela. Uma viagem visual e acústica para dentro de um cenário de filme, agora real.

Café, para abastecer o estômago antes da viagem.

Um desses, encapetado, cismou de matar Dennis Weaver em "Encurralado", primeiro sucesso de Steven Spielberg.

Coleguinha de estrada abastecendo.
Subindo a Sierra Nevada.

Little Miss Sunshine, só que em azul.

Atravessando o Sequoia National Park



domingo, 3 de novembro de 2013

Um Trato Quase Perfeito

O sorriso cativante de Cicila
tinha um je ne sais quoi de simpatia
e distinção.
Olavo Bonifácio Magalhães e Otacília Magalhães, nascida Paes Leme (ou née Paes Leme, como preferiam os colunistas sociais da época) eram um casal figurinha carimbada na high society paulistana. Ele bisneto de senador do império e filho de ministro de Getúlio, ela de família paulista de quatrocentos anos, Olavinho e Cicila eram presença obrigatória nos jantares das mais elegantes residências do Jardim Paulista, em recepções nas mansões do Morumbi e nas vernissages mais concorridas de São Paulo. A bem da verdade, eram convidados principalmente, se não exclusivamente, em função da personalidade carismática, da silhueta sempre esbelta e do sorriso cativante de Cicila, que aliava sem esforço simpatia e aquele je ne sais quoi de distinção e fidalguia. Já Olavinho, bem, digamos que era um apêndice que não podia ser amputado quando se queria a presença de Cicila para abrilhantar um evento. Alguns centímetros mais baixo do que ela, barriga proeminente, cavanhaque grisalho sempre bem aparado, ele vivia feliz à sombra de Cicila, como uma avenca à sombra de uma árvore frondosa e florida. Advogado, nunca precisou ser brilhante na profissão. Os bens herdados, dezenas de imóveis alugados em alguns dos melhores pontos comerciais de São Paulo, garantiam uma vida tranquila e mais do que confortável. Caçula de cinco irmãos, era um tímido amante das artes em geral, em especial de música clássica. Não fosse pelo prazer que sentia em ver a esposa brilhar em sociedade, talvez não a frequentasse tanto. Sua maior alegria era o amor sincero que lhe devotava sua amada Cicila e as muitas qualidades que ele tanto admirava nela, entre as quais seus dotes como pianista. Cicila era exímia ao teclado, com talento especial para interpretar as sutilezas de Debussy. Teria sido uma concertista de renome, não tivesse se apaixonado por Olavinho aos 22 aninhos de idade. “Um desperdício!”, diziam muitos com mal disfarçada inveja. Abastados, cosmopolitas, sem filhos, muito bem relacionados e apaixonados um pelo outro, o fato é que eram felizes.

Os maiores amigos do casal eram Hipólito Jaguaribe e sua esposa Maria Júlia. Polito, como era mais conhecido, era, em muitos aspectos, o inverso de Olavinho. Herdeiro de barões do açúcar de Pernambuco, Polito era expansivo, galanteador e amante do bom scotch whisky, que consumia em quantidades industriais. Assíduo frequentador de Mônaco, Las Vegas e onde mais houvesse uma roleta e um carteado, tinha cavalos no Jockey Club, um dos quais já vencera um Grande Prêmio Cidade de São Paulo. Apesar das diferenças, e talvez até por causa delas, admiravam mutuamente as qualidades que faltavam em um e sobravam no outro, como sempre acontece entre os sensatos e tímidos e os amantes da vida intensa. Já Maria Júlia, segunda esposa de Polito, tinha origem, digamos, menos nobre. Polito a conhecera duas décadas antes e enlouquecera um pouco mais do que de costume com o lindo rosto e o corpo escultural. Nunca ficou muito claro qual era a profissão de Julinha anteriormente, não faltando hipóteses maldosas para o mistério. O fato é que Polito arcou com um desquite caríssimo para poder desfilar a nova esposa em meio a seus pares, causando um misto de censura velada por parte das madames e inveja mal disfarçada por parte dos amigos. Julinha acabou descendo goela abaixo da pauliceia e em poucos anos, a bem da justiça também em função de sua rápida adaptação ao novo meio social, não se falava mais nisso.

Até que um dia Cicila faleceu. A doença galopante a levou em dois meses, apesar dos esforços dos melhores especialistas do Albert Einstein. Isso se deu apenas algumas semanas antes de também falecer Polito em um hotel em Las Vegas, as circunstâncias nunca bem esclarecidas.

Olavinho viu-se privado de seu chão, de seu norte, de sua razão de viver. Afastou-se das frivolidades e relutava em atender os apelos de seus poucos amigos para deixar a reclusão. A vida deixou de lhe fazer sentido. Já Julinha Jaguaribe também perdeu o chão, mas em sentido menos figurado. Perdeu o teto também. Polito conseguira paulatinamente dilapidar toda a sua herança, inclusive hipotecando sua cobertura de 370 metros quadrados na Alameda Santos. Para sobreviver, Julinha arriscou-se no comércio de antiguidades e joias, a maioria das quais ela mesmo fornecia. Depois de algum tempo, viu-se em situação de penúria indisfarçável.

Foi então que alguns amigos bem intencionados tiveram uma ideia brilhante e de obviedade incontestável: porque não se casavam Olavinho e Julinha? Já eram tão íntimos, já tinham viajado juntos tantas vezes ao exterior, cada um com seu cônjuge, frequentavam os mesmos amigos, os mesmos ambientes. Tudo bem, Cicila era insubstituível, não se tratava disso, mas Olavinho não tinha herdeiros e Julinha, embora já na faixa dos cinquenta, era ainda muito bonita e jovial, uma injeção de vida na existência sombria que ele vinha experimentando como viúvo profissional. Convencer Julinha a agarrar aquele bote salva-vidas foi um pouco menos difícil. Acabaram se casando.

Mas o que não ficara bem esclarecido era até que ponto o casamento era à vera. Olavinho, já pelos setenta e muitos, não era ainda propriamente um defunto e, com toda razão, entendera que teria algumas vantagens adicionais além de companhia à mesa de refeições. Julinha, que se fizera de desentendida até então, ficou horrorizada. Já tinha se conformado com a aposentadoria carnal, tornara-se católica praticante e frequentava as obras sociais da diocese. Alegou que nada disso tinha sido combinado, o que era verdade, mas nem precisava, alegou Olavinho com toda a razão. A coisa ficou nesse impasse. O clima em cada refeição era tenso, Olavinho tendo acessos ocasionais de fúria depois do jantar. Mas eles continuavam dormindo em quartos separados, Julinha tendo o cuidado de trancar a porta por dentro.


Recentemente, a conselho de amigas, Julinha decidiu que o apartamento precisava de uma empregada que dormisse no emprego. Depois de algumas entrevistas, foi contratada Jaciara, cozinheira razoável mas bastante ambiciosa, com vontade de aprender e de subir na vida. Desde então, o clima naquele lar parece um pouco mais calmo. Não que a jovem Jaciara seja exímia na cozinha, realmente não é o caso. Mas Julinha tem estado cada vez mais ocupada com as obras sociais, o que demanda reuniões e mais reuniões, inclusive à noite. E Jaciara é muito simpática e atenciosa, além de bem feitinha de corpo.

sábado, 2 de novembro de 2013

Lago Hume

Lago Hume, no King's Canyon National Park, California. (watercolor, aquarela, acquarelle)