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sábado, 10 de maio de 2014

As meninas roubadas porque liam livros

“E vos é proibido esposardes as mulheres casadas, exceto as escravas que possuís …” *

“E então ele escreveu o documento do casamento com Aisha quando ela era uma menina de seis anos de idade, e consumou o casamento quando ela tinha nove anos.” **

“Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticam ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a morte.” ***

“Quando um homem tomar mulher (...) e contra ela divulgar má fama, dizendo: ‘Tomei esta mulher, e me cheguei a ela, porém não a achei virgem’; Então o pai da moça e sua mãe tomarão os sinais da virgindade da moça, e levá-los-ão aos anciãos da cidade, à porta; (...) Se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça, então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra.” ****

Estes são textos considerados sagrados e inspirados por Deus. Que homem, então, se atreveria a contrariar um mandamento divino? Quem os segue à risca, faz bem aos olhos de Deus e garante seu lugar no paraíso. Assim acreditam os radicais religiosos.

Para sua informação: os dois primeiros mandamentos foram copiados do Corão e os dois últimos da Bíblia. Ao autorizar a escravidão e ao determinar ser um direito do dono de escravas possuí-las sexualmente, ao descrever que o próprio Profeta Moisés manteve relações sexuais com uma menina de apenas nove anos de idade, ao prescrever a morte aos homossexuais e às mulheres que se casarem “impuras”, tanto os mandamentos do Corão como a Bíblia são bárbaros nos dias de hoje.

Os textos sagrados do Velho Testamento judaico-cristão foram escritos há mais de dois mil anos e o Corão foi redigido no século VI da era cristã. Há muito tempo, portanto. Eram épocas em que as leis laicas e religiosas eram, frequentemente, a mesma coisa. Os livros do Velho Testamento, assim com as surias do Corão, prescreviam regras de conduta e punições para os que não as seguissem. Muito provavelmente foram um grande avanço numa época de caos social, e devem ter sido responsáveis por reduzirem punições ainda mais bárbaras e trazerem alguma unanimidade em relação ao que era ou não justo. Mas isso foi em outra época e em outro contexto.

O sequestro das jovens estudantes nigerianas por radicais islâmicos me fez tentar imaginar as razões que levam alguns, ainda hoje, a acreditar que estas regras ainda devam ser aplicadas. Do ponto de vista do Corão, os muçulmanos travam o Jihad, uma guerra santa, um esforço para submeter os “infiéis”. Sob este aspecto, as meninas nigerianas seriam prisioneiras de guerra e, ao privá-las de educação, eles estariam cumprindo os desígnios divinos. Como escravidão, sexo com escravas e com meninas impúberes são previstos no Corão, tudo se encaixa e se justifica daquele ponto de vista torto.
Estamos, no entanto, no século XXI. Ao contrário do que imaginam os pessimistas, a civilização evolui. Hoje as leis das sociedades mais modernas são mais compassivas para com o ser humano e tolerantes para com as diferenças; mais protetoras para com os indefesos e menos tolerantes com os que abusam à força de outros seres humanos. Menos bárbaras, portanto. Não admitem o trabalho escravo, o sexo não consensual, e não condenam adúlteros nem homossexuais/homoafetivos.

A separação entre estado e religião, outra característica das sociedades modernas, impede a imposição de leis e princípios religiosos aos que não professam e não concordam com a religião majoritária.

Diga-se de passagem: neste contexto, não vejo sentido lógico quando uma designação cristã, nos dias de hoje, condena o homossexualismo baseado em afirmações da Bíblia. A seguir-se todos os mandamentos bíblicos, estaríamos apedrejando adúlteros, homossexuais e mulheres (só mulheres, vejam só!) que não se casem virgens. Haja pedra!

Como o aperfeiçoamento civilizatório certamente ainda não se completou, fico imaginando que mesmo hoje, muito provavelmente ainda admitimos como normais práticas que vão se revelar bárbaras ou inadmissíveis daqui a alguns séculos. Que práticas seriam estas? Vale alguma reflexão.

Existe uma lei maior que qualquer código penal ou texto sagrado: a lei do amor ao próximo, da tolerância para com as diferenças, da proteção aos vulneráveis. A civilização, em que pesem alguns retrocessos e períodos de trevas, avança nessa direção. Eu, pelo menos, assim vejo e acredito. Enquanto isso, caberia às nações que pertencem à parcela mais esclarecida e civilizada da grande sociedade humana proteger as vítimas do radicalismo e do obscurantismo religioso. Mas como fazer isso sem violar a autonomia das outras nações? Questão difícil, mas que exige reflexão e resposta.

Assista este vídeo, um menino egípcio surpreendentemente lúcido.

*    Alcorão, Sura 2:228
**  Alcorão, Sura 4:24
*** Bíblia, Deuteronômio 22:22
****Bíblia, Deuteronômio 22:13-21

terça-feira, 6 de maio de 2014

O fabuloso Sargento João Cantor

Barcos, reprodução de aquarela de John Singer Sargent
John Singer Sargent é um dos meus dez (talvez cinco) pintores favoritos. Filho de um médico norte-americano, nasceu em Florença em 1856. Estudou pintura na Itália e na França, antes de radicar-se em Londres. Foi o mais celebrado e requisitado retratista de seu tempo. O mais famoso  de seus retratos, o de Madame Gautreau, escandalizou Paris ao retratar a socialite da época com uma alça de vestido displicentemente caída, algo de excessiva conotação erótica para a época.

Além de retratista, foi um exímio aquarelista, rivalizado apenas, a meu ver, pelo espanhol Joaquín Sorolla na excepcional capacidade de reproduzir o efeito da luz solar incidindo em paisagens, modelos, tecidos e construções. Foi daqueles poucos pintores que, na maturidade, nada mais têm a aprender. Não sei o porquê, mas talentos excepcionais como os de Sargent e Sorolla são virtualmente desconhecidos do público leigo.


Uma das melhores e mais tradicionais maneiras de desenvolver a habilidade de alunos aprender a técnica dos grandes mestres, seja de pintura a óleo ou aquarela, é reproduzindo suas obras. Foi o que, reverente e humildemente, busquei aqui. Com a orientação  presencial de Renato Alarcão e espiritual do saudoso mestre das marinhas Roberto Paragó.


Para ver mais obras de Sargent: Acesse este link